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Review | Death Note (Netflix)


Difícil até de escrever sobre...

Fala pessoal.


Este review foi difícil pra sair.

Quem acompanha o blog sabe que eu não gosto de formular reviews negativos. Por mais que na opinião de alguns as polêmicas gerem resultado, não curto essa linha editorial e prefiro escrever reviews e artigos positivos e mais otimistas.

Dito isto, é com um profundo pesar que digo: A adaptação de Death Note como um filme da Netflix é ruim.

Vamos pensar juntos e discorrer sobre este argumento num review dividido. Irei primeiramente falar sobre o filme, abordando os pontos positivos e os negativos. No final farei a temível comparação com o anime.

Fatalmente haverão spoilers, portanto se você não viu o filme recomendo que PARE DE LER AGORA!



O que é o Death Note?

A historia gira em torno do caderno chamado Death Note (livro da morte, em tradução livre), que possui o poder de matar a pessoa cujo o nome tenha sido escrito em suas páginas. Para que a morte aconteça, é necessário que quem escreve o nome tenha em mente o rosto da pessoa. Caso a forma da morte não seja escrita, o deus da morte responsável pelo caderno matará a pessoa como desejar.

E como é o filme?

Temos um estudante chamado Light Turner. Aparentemente ele não é um garoto popular e "ajuda" alguns estudantes com suas tarefas em troca de dinheiro. Numa tempestade, um caderno cai ao seu lado com o título na capa "Death Note". Light pega o caderno e acaba se metendo em uma briga, indo parar na detenção.

Lá ele tem o seu primeiro encontro com Ryuk, o deus da morte e dono do caderno, que revela os motivos e objetivos ao portador, bem como a forma de funcionamento e algumas regras que o caderno possui. Para provar o poder do caderno, Ryuk recomenda que Light utilize o caderno no mesmo garoto que brigou com ele anteriormente e que, no momento da conversa, estava atacando uma menina da escola no lado de fora. Para a surpresa de Light o caderno realmente funciona.

A trama se desenvolve com Light realizando testes com o caderno, julgando quem ele considera ser merecedor de morte. Ele acaba revelando seu "poder" a uma jovem chamada Mia Sutton, que passa a ajudá-lo na missão de eliminar criminosos pelo mundo. Eles assumem a identidade de Kira que vira uma espécie de deus.

Enquanto os cultos e adorações ao novo deus se espalham e a popularidade de Kira aumenta, um jovem conhecido apenas como "L" se interessa pelo caso. Ele é um gênio que auxilia forças policiais ao redor do mundo a elucidar crimes de difícil compreensão.

O jogo entre Kira e L começa e a trama do filme se desenvolve com essa base: L tentando descobrir quem é Kira; Enquanto isso Light e Mia vão eliminando criminosos e fugindo de L.

Esse resumo fala um pouco do que é o filme. Paro por aqui para evitar os spoilers, mesmo tendo dado o aviso anteriormente.

Agora, qual é o problema do filme?

Abstraindo toda a questão de comparação com o anime, o roteiro do filme é raso e muito confuso em algumas partes. A cena do primeiro encontro entre Light e Ryuk é cômica, para não falar um palavrão que ela merecia. Embora estejamos falando de um deus sobrenatural que mais lembra um demônio, o descontrole (leia-se chilique) de Light na cena é absurdo. Isso tudo para em outras partes eles tentarem passar a ideia de um Light metódico e calculista.

A cena final Light é colocado como o maior controlador de todos, com um poder de dedução impressionante, algo que nem de longe fica claro no decorrer das cenas ao longo do roteiro. Ele mais parece um moleque que possui um poder, mas não sabe lidar com suas próprias ambições e objetivos. Isso é tanta verdade que é Ryuk quem tem que tomar o papel de motivador, algumas vezes até ameaçando Light de mudar de portador.

O tempo todo o filme não passa a sensação de controle por parte de Light, e quando L entra em cena, a coisa não melhora. L dá um tom mais sério em alguns momentos, mostrando uma boa argumentação e alta inteligência para lidar com um criminoso que consegue eliminar suas vítimas à distância de forma sobrenatural, mas basta um plano dar errado para ele também perder o controle e partir inclusive para a luta armada. Novamente o roteiro se esforça em mostrar um jovem gênio investigador e revela um lunático com recursos ilimitados comedor de doces.

Citando alguns reviews que li na internet, Death Note erra colocando uma má decisão em cima de uma pilha de outras más intenções. Concordo com a citação porque é exatamente isso o que eles fazem.

Mia, por exemplo, possui uma personalidade forte e é bem mais impetuosa que Light durante toda a trama, mas nada é explicado, pois não temos nenhuma informação de quem ela é. Ela parece ter sido colocada apenas para antagonizar com o lado mais panaca de Light e sua participação fica totalmente comprometida dentro da coerência do roteiro.

Por fim, Death Note tenta dar aquele ar Inception no final, mas totalmente sem sucesso. Ele tenta deixar um Light grandioso, mas não funciona. Terminamos o filme sem saber o que aconteceu, com uma ponta solta de forma a ter uma continuação sem que esta continuação seja confirmada, e muita coisa mostrada por trás das câmeras, com explicações absurdas para tentar justificar as coisas.

Na minha opinião, os principais pontos positivos ficam por conta da atuação de Willem Dafoe, que dubla Ryuk e o jovem ator Lakeith Stanfield que, nos momentos bons de L, tem atuações muito consistentes e nas parte ruins mostra que entregou apenas o que foi pedido pelo diretor.

Nat Wolff na pele de Light Turner foi muito ruim. Ele não tem carisma e não dá o ar homicida que, na minha opinião, qualquer pessoa que porte um caderno com tal poder teria. Margaret Qualley, a Mia, é regular, mas a falta de background reduz sua participação e suas motivações.

Comparando com o Anime

Aqui a coisa fica ainda mais bizarra. Light é um garoto genial, com um intelecto surpreendente e uma ambição ímpar. Ele é metódico e frio, tanto é que seu primeiro encontro com Ryuk é tenso, mas sem chilique.

A caracterização de Ryuk ficou boa, embora um pouco diferente do anime. Como eu disse, gostei da atuação de Willem Dafoe, mas faltou alguma coisa. Fora que o Ryuk do anime é mais espectador do que motivador, diferente do filme.

 L ficou bem parecido no inicio. Eu não sou da turma que achou ruim os atores serem ocidentais. Como eu disse, Lakeith Stanfield atua muito bem. Ele é negro e fisicamente diferente do L do anime, mas isso não me importa. A atuação é muito boa e até mesmo parecida com o anime, mas no final o L do filme pega em armas, algo impensável ao L do anime. No anime ele é tão frio e metódico quanto Light, o que torna a luta entre os dois muitíssimo interessante. No filme esse embate é ridículo e como fã eu fiquei desapontado, pois o duelo intelectual é o ponto alto do anime. De um lado L criando mecanismos para isolar e identificar o Kira, enquanto Light vai se esquivando e alterando sua forma de agir para despistar L.

Misa Amane foi alterada para Mia, o que, novamente, para mim não é problema. Mas a atuação dela não é consistente por culpa do roteiro. No anime, Misa é uma pop star que é recrutada por outro Shinigami, cujo Death Note foi roubado de Ryuk e jogado na Terra. Este é o Death Note que Light encontra por puro acaso, diferente novamente do filme. Este segundo shinigami explica as regras para Misa que, por admiração ao Kira, obtém os Olhos do Shinigami, o que lhe garante poder de obter o nome da pessoa só de olhar para ela. Além do fato do Olho do Shinigami nem ser citado, no filme Mia simplesmente é uma psicopata que do nada concorda em matar pessoas.

O relacionamento dos dois Kiras é bem doentio. De um lado temos Misa perdidamente apaixonada por Light, enquanto Light usa esse sentimento. O filme tenta passar isso na cena final, mas não cola. No anime isso fica claro, pois vemos a cara de psicopata de Light ao abraça Misa em algumas cenas. Por que muda isso? Realmente não sei.


A própria motivação do filme é diferente do original. No anime, Light é quem tem a ideia de matar criminosos. A ideia de Ryuk era apenas jogar o caderno na Terra para ter um entretenimento. É Light quem coordena e maquina toda a coisa. E quando L o desafia em rede nacional ele toma o desafio como pessoal e transforma o Death Note num terrível jogo. É contra isso que L luta. E é essa motivação que nos faz hora torcer para Light e hora torcer para L.

O anime, em resumo, é triste, pois narra uma tragédia. Ao mesmo tempo, os pormenores fazem dele um anime grandioso, com doses excelentes de investigação ao melhor estilo dedutivo, com personagens profundos e realmente interessantes.

Considero uma pena o filme não ter passado isso, pois enterra uma grande franquia que possui um roteiro excelente, capaz de fazer frente até aos grandes filmes de Hollywood. Meu receio é que com o desserviço prestado pelo filme o anime acabe ficando esquecido.

A ideia era justamente o contrário.

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