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Poemas e Poesias | Haikai Brasileiro


De Afrânio Peixoto a Paulo Leminski...
Fala pessoal!

Hoje trago alguns exemplos do Haikai no nosso idioma. A primeira publicação significativa do Haikai no Brasil foi um ensaio de Afrânio Peixoto, em 1928, embora este dado gere alguma controvérsia entre os historiadores. A publicação, intitulada "O Haikai japonês ou epigrama lírico - um ensaio de naturalização" traz um apêndice de 49 haikais, provavelmente de autoria do próprio Afrânio.

O Haikai de Afrânio traz o formato de um terceto com 5-7-5 sílabas respectivamente, sem rimas. Na época o formato desagradou alguns poetas por conta da falta de ritmo e rima. Daí surgiu o formato de Guilherme de Almeida, famoso poeta, jornalista e tradutor, que inseriu o formato 5-7-5 com rimas no 1º e 3º verso, além de uma rima interna no segundo verso.

Em 1939 o poeta paulista Jorge Fonseca Jr. introduziu o conceito do Kigô ao Haikai brasileiro. Entusiasta da cultura japonesa e pesquisador do haikai tradicional japonês, Fonseca aprimorou e aprofundou seus conhecimentos no Haikai através de um intercâmbio realizado entre os alunos da USP no Japão. Ao retornar ao Brasil, tornou-se um dos principais divulgadores do Haikai por aqui, utilizando o Kigô.

Um parêntese: O Kigô é a arte de inserir na poesia um elemento (normalmente um animal ou uma planta) que destaque a estação do ano em que ele foi concedido. Por exemplo, ao incluir o animal Sapo na poesia, que representa a primavera no Japão, entende-se de que ornamento da estação onde a poesia foi escrita é a primavera.

Para terminar este breve artigo, vale o destaque para Paulo Leminski. O curitibano, escritor e professor, foi fortemente influenciado pelas técnicas ideogramáticas do movimento quanto pela contracultura dos anos 60. Pelo seu grande conhecimento da íngua japonesa, conseguia traduzir os haikai originais, ajudando a divulgar a poesia.

O grande mérito de Leminski, segundo os estudiosos, foi trazer o Haikai para a vida cotidiana, popularizando o gênero, até então elitizado desde Guilherme de Almeida, dando bom humor e num formato de terceto bem livre, sem rimas e ritmo, mas muitíssimo interessantes.

Vejam abaixo os exemplos de Haikai dos quatro poetas citados, cada um com sua particularidade e note as diferentes expressões do Haikai na língua portuguesa:

AFRANIO PEIXOTO

Mallarmé ou Valéry

Fiz uma charada:
Não sabia que isto é hoje
A poesia pura.

Opinião sobre modas

Observei um lírio:
De fato, nem Salomão
É tão bem vestido…

"Anch'io"

Na poça de lama
como no divino céu,
Também passa a lua.

Comparação

Um aeroplano
Em busca de combustível…
Oh! é um mosquito.

GUILHERME DE ALMEIDA

Velhice
Uma folha morta
Um galho, no céu grisalho.
Fecho a minha porta.

Caridade

Desfolha-se a rosa.
Parece até que floresce
O chão cor-de-rosa

Infância

Um gosto de amora
Comida com sol. A vida
Chamava-se "Agora".

História de algumas vidas

Noite. Um silvo no ar.
Ninguém na estação. E o trem
Passa sem parar.

JORGE FONSECA JR.

Para o sol que morre,
o algodoal estende, grato,
um lençol imenso...

Ufa! que parece
que a gente vai caminhando
com o sol às costas!...

Escurece rápido.
Insistente, a corruíra
cisca no quintal...

Fundo de quintal...
Silêncio. No velho muro,
uns cacos de sol...

PAULO LEMINSKI

hoje à noite
até as estrelas
cheiram a flor de laranjeira

duas folhas na sandália
o outono
também quer andar

a palmeira estremece
palmas pra ela
que ela merece

para que cara feia?
na vida
ninguém paga meia

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