Série | Review: Alias Grace (Livro, Série e Fatos Reais)
Uma série surpreendente com uma história misteriosa e controversa...
Fala pessoal!
Se você está procurando uma série repleta de mistérios, com diálogos e atuações excelentes e espaço para muitas teorias, leia esse review.
Contudo, não posso permitir que você leia sem uma ponderação inicial: Esta não é uma série para todos os gostos.
Cuidado, poderão haver spoilers.
Alias Grace (Vulgo Grace) conta a história de Grace Marks, uma irlandesa que, ainda muito jovem, viajou com a família para o Canadá. Sua mãe morreu ainda no navio durante a precária viagem; seu pai era um alcoólatra abusivo e pouco é falado de seus irmãos mais novos.
Tendo vivido sérios problemas durante a infância e forçada a trabalhar desde cedo como empregada na casa de famílias mais ricas, Grace acaba por se envolver em uma história de um misterioso assassinato.
A história é baseada em fatos reais. A narrativa da série tem como base o livro da autora canadense Margaret Atwood. A escritora produziu sua obra inspirada no relato da própria Grace, em sua confissão, e do comparsa (se é que podemos chamá-lo assim) James McDermott.
É um fato que um notável fazendeiro chamado Thomas Kinnear e sua governanta, Hannah Nancy Montgomery foram mortos em 30 de Julho de 1843, em sua propriedade no município de Vaughan, atualmente em Ontário, na época chamado de Canadá Superior. Grace Marks e James McDermott foram capturados enquanto fugiam para os EUA, tidos como amantes pela imprensa da época. James foi condenado a forca e Grace foi condenada a prisão perpétua, embora a condenação inicial de pena de morte também tenha sido indicada a Grace, que recorreu junto ao júri por clemência.
O romance escrito por Atwood é fruto de uma intensa pesquisa da autora. Mesmo romanceado, Atwood trata por descrever tanto as atitudes como a personalidade de Grace baseando-se nas transcrições do julgamento e nas pesquisas realizadas à época.
Um grande exemplo da maestria de Atwood é Mary Withney. A serviçal, amiga de Grace, que acaba falecendo logo no começo da série, é retratada como um nome falso usado por Grace. De fato, na história real, existem indicações de que Grace utilizou esse nome quando saiu da prisão. Sendo assim, Atwood decidiu criar a personagem, romanceando e dando mais tons de verdade que cativam o leitor/espectador.
Neste quesito, a série é fenomenal quando adapta o livro de forma excelente, cultivando extremo cuidado com a versão audiovisual, tornando Alias Grace uma série espetacular de se ver, mesmo do ponto de vista dos fãs do livro.
Grande destaque para a atuação de Sarah Gadon como Grace Marks. Sua expressão facial é perfeita dando o ar misterioso da personagem, fazendo com que você não consiga perceber quem ela é de verdade. Muitas palmas para a atriz. Anna Paquin, vivendo Nancy Montgomery também atua muito bem e de forma muito convincente. Eu particularmente gostei de todas as escolhas para os atores, destacando o belo trabalho de produção da Netflix.
Na história real, Grace acaba indo para a prisão em Kingscon. Um artigo publicado no periódico Canadian Woman Studies, a socióloga Kathleen Kendall, da universidade de Southampton, destaca os sinais de loucura que Grace Marks passou a a apresentar alguns anos após ser mantida presa. Existiam sinais de mudanças drásticas de humor e visões, provavelmente fruto de alucinações. Ela foi mandada para o sanatório Provincial Lunatic Asylum, em Toronto, onde ficou 16 anos, e depois retornou a penitenciária.
Após um total de 30 anos presa, Grace Marks foi perdoada e libertada.
Todo o cerne dos fatos estão na série. Cenas no sanatório, na prisão e no curto período que passou na casa de Thomas Kinnear estão lá. Tudo é apresentado ao leitor/espectador na visão de Grace, numa narrativa motivada pela visita do doutor Simon Jordan, um psiquiatra que decide entrevistar Grace na tentativa de entender os reais acontecimentos.
Mesmo com todos os fatos conhecidos, como a transcrição do julgamento de Grace e James, suas confissões e os testemunhos da época, Atwood não desvenda os mistérios por trás do duplo assassinato. Alias Grace traz a visão da própria Grace, então nós sabemos apenas o que ela decide contar. Sendo assim, o mistério acaba se desenvolvido dentro da cabeça dos que acompanham o desenrolar do roteiro.
Na época, poucos acreditavam que uma jovem bonita de 16 anos fosse capaz de tal atrocidade. James McDermott, em sua confissão, acusou Grace de ser a líder que motivou os assassinatos, enquanto na versão de Grace, McDermott é organizou e executou as vítimas. Alguns diálogos interessantes dos dois dão base para as duas teorias. Na verdade o roteiro concede combustível para várias teorias.
Teria Grace cometido os crimes de bloqueado as memórias? Teria ela seduzido McDermott a matar Kinnear e Nancy a fim de roubar seus pertences? Grace sofre de dupla personalidade? Grace é atormentada por demônios?
Várias teorias são possíveis. Eu tenho minha própria opinião, mas fica difícil cravar um diagnóstico preciso. Por isso eu disse que está série não é para todos, uma vez que o final não traz clareza necessária para determinar o que ocorreu de fato. Tudo o que sabemos é o que Grace decide contar. Então, se ela está mentindo todas as teorias formuladas caem por terra. Mas até a possibilidade dela estar mentindo é uma teoria, então...
Se você gosta de mistério, aconselho você a ver a série, produzida pela Netflix. São apenas 6 episódios de 45 minutos cada. Uma ótima pedida com uma história muito bem contada, intrigante e que prende até o final.
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