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Contos (não tão) de Fadas 003 - João e Maria


Sem dúvia, um conto que não é para os fracos…

Cada vez que eu tenho coletado um conto para trazer aqui na série eu fico mais impressionado. Com João e Maria não foi diferente.

Apesar de não ser um conto adaptado para um longa metragem da Disney, todos nós conhecemos a história, seja por meio de curta metragens de animação, desenhos em geral, livros infantis e até mesmo adaptações ao nosso folclore, João e Maria é um clássico da literatura e um conto infantil cheio de lições.



Mas novamente o original não é assim tão meigo.

Novamente a versão que eu utilizei foi a versão dos Irmãos Grimm. Se você ainda não sabe quem eles foram, confiram aqui. O fato é que os originais, assim como o compilado pelos Grimm, são bem diferentes da história como nós conhecemos, mas pelas lições que passam, e não pela história em si, que é até bem semelhante. Isso se dá novamente pelo período em que o conto foi criado, numa sociedade totalmente diferente da nossa.

A data da primeira publicação dos Grimm é de 1812, porém a origem é ainda mais antiga, trazida pela tradição oral desde a idade média, por volta dos séculos 12 e 13.

O conto narra a história de Hänsel e Gretel, João e Maria respectivamente, e como eles foram abandonados pelos pais à própria sorte numa floresta escura, caindo nas garras da bruxa malvada dos doces.

Não, você não leu errado. João e Maria são abandonados pelos pais na floresta no conto original.


Se você vem acompanhando a série pode perceber um padrão nisso. Pais que abandonam os filhos ou tentam matá-los. Novamente temos que lembrar do padrão da sociedade em que o conto foi concebido. Na idade média as idéias sobre família, saúde, bem estar, educação, eram totalmente diferentes de hoje. Era comum um pai oferecer uma filha de 12 anos em casamento, ou enviar um menino de 10 anos para uma guerra. O conceito de adolescência não existia, sendo que o jovem saia da infância para as responsabilidades da vida adulta muito cedo. Porém, a prática do abandono, assassinato e má criação sempre foram abordadas e abominadas nas mais diferentes culturas através dos tempos. E os contos faziam parte desta abordagem, fazendo a reprovação cultural às práticas comuns da época por meio da tradição oral e, mais tarde, dos livros.

Voltando ao conto, a narrativa começa mostrando um pobre lenhador, sua esposa e suas duas crianças, João e Maria. Os tempos eram de pobreza naquela terra e o lenhador não estava conseguindo sustentar sua família como de costume. O original diz “um lenhador, sua esposa e seus filhos” deixando a entender que era a mãe biológica das crianças. O conto dos Grimm que eu possuo, a versão já havia sido alterada para a madrasta, novamente se adaptando a cultura mais recente.

O homem e a mulher um dia tem uma discussão. Ele pergunta sobre o que deveriam fazer, uma vez que os recursos estavam acabando, e a mulher diz que eles deveriam abandonar as crianças na floresta. O pai (este, em ambas as versões, sendo o pai biológico das crianças) reluta por um tempo, mas acaba cedendo àquela idéia.

Só que João e Maria estavam acordados e acabam ouvindo tudo. Enquanto Maria chorava, João tem uma idéia. Ele espera os pais dormirem e sai da casa no meio da noite. A luz da lua fazia com que os seixos brancos ao redor da casa brilhassem como moedinhas de prata. Seixos brancos são aquelas pedrinhas brancas que costumamos usar para adorno de plantas.

heading-homeJoão pega várias pedrinhas e enche os bolsos do seu casaco antes de voltar para casa. Ele então conforta sua irmã e ambos acabam dormindo. Na manhã seguinte a madrasta os acorda, dá um pequeno pedaço de pão a cada um e diz que eles iriam a floresta pegar lenha com o pai.

Quando eles saem João fica um pouco para trás ao que seu pai pergunta: “João, o que você está fazendo que está ficando para trás?”. João responde dizendo que estava procurando seu gatinho para se despedir, mas na verdade ele vai deixando as pedrinhas conforme caminhavam, para que pudessem se orientar e retornar para sua casa.

No meio da floresta eles montam um acampamento. O pai acende uma fogueira e as crianças ajudam com a lenha. Passado um tempo a madrasta pede para eles descansarem e quando João e Maria caem no sono, ambos vão embora, abandonando as crianças entre as árvores. As crianças acordam já de noite e notam que foram abandonadas. Maria chora, mas João a conforta dizendo para esperarem a lua chegar. Assim que isso acontece eles começam a encontrar os seixos e retornam para casa.


Ao chegarem em casa são recebidos pela madrasta, que mal consegue esconder a frustração. O pai, no entanto, fica muito feliz ao ver as crianças, mas a felicidade não dura muito. Novamente a mulher discute com o lenhador, deixando claro que o último pedaço de pão acabaria naquela noite e eles iriam morrer. Ela convence o lenhador novamente a abandonar os filhos, desta vez ainda mais dentro da floresta.

João e Maria novamente estavam acordados e ouvindo tudo. João repete a idéia, porém desta vez a madrasta havia trancado a porta e ele não consegue coletar os seixos. De manhã a mulher acorda as crianças e traz um pedaço ainda menor de pão para elas.

Sem ter os seixos, João decide ir desintegrando o pão em seu bolso e largando as milgalhas pelo caminho, na esperança de acharem novamente o caminho de volta. Tudo se repete, com as crianças ajudando com a lenha, dormindo perto da fogueira e sendo abandonadas pelos pais. Ao acordarem, porém, descobrem que as migalhas foram comidas pelos pássaros durante o dia e não encontram o caminho de volta.

Eles vagam pela floresta por tês dias sem achar o caminho de volta, famintas e sedentas. No meio do terceiro dia eles encontram um belo pássaro branco e decidem seguí-lo. Ele pousa no teto de uma casa e, quando João e Maria observam melhor, notam que a casa era feita de pães, bolos e doces. Famintos, acabam chegando perto da casa e comendo as partes da janela, teto, parede e tudo o mais dos deliciosos doces que formavam a construção.

Então uma voz doce sai da cabana dizendo:

“Nibble, nibble, gnaw, 
Who is nibbling at my little house?”

Algo como: “Mordidela, mordiscar, roer. Quem está mordiscando minha pequena casa?”.

As crianças respondem que é o vento, porém ao invés de fugirem, Maria fica comendo mais um pedaço da janela, quando repentinamente surge pela porta uma velha senhora, apoiada em muletas de tão velha. Ela fala que eles não precisam temer e os convida para dentro de casa. Ela serve um delicioso banquete para as crianças, com panquecas, maçãs, nozes, leite, pão e tudo mais. Depois ela os leva ao quarto, onde duas camas confortáveis os esperavam, fazendo com que João e Maria achassem estar no céu.

Obviamente, era tudo um fingimento. A velha senhora era uma bruxa má, que estava esperando pelas crianças e havia construído a cabana de doces apenas para tentá-las. Quando uma criança caía em seu poder ela cozinhava e comia a criança. Ela tinha olhos vermelhos e não podia enxergar muito bem, mas tinha um faro igual ao dos animais e podia perceber quando humanos estavam próximos.

Antes das crianças acordarem na manhã seguinte, a bruxa se levantou e capturou João, colocando preso nos estábulos nos fundos da casa. Maria foi acordada depois, aos berros da bruxa, que gritava: “Acorde logo, sua preguiçosa. Leve um pouco de água e cozinhe algo bom para o seu irmão. Ele está nos estábulos e precisa ficar bem gordo. Quando ele estiver bem gordo, eu bou comê-lo”. Maria começou a se debater e chorar, mas era tudo em vão, porque seu corpo não lhe obedecia totalmente e ela era obrigada a cumprir as ordens da bruxa.

Todas as manhãs a bruxa ia aos estábulos e pedia para João lhe mostrar o dedo, para que ela sentisse se ele já estava ficando gordo. João, no entanto, estendia um pequeno pedaço de osso, fazendo a bruxa cega achar que ele ainda estava magro. Passados alguns dias a bruxa, impaciente, pediu para Maria enchê-lo de comida, ou então ela comeria o menino magro mesmo.


Na manhã seguinte, Maria encheu o calderão com água e acendeu o fogo. A bruxa veio e mostrou a Maria onde João seria cozinhado, numa espécie de forno. Maria então teve uma idéia. Ela disse: “Eu não sei como eu vou colocá-lo aí, já que é pequeno”. A bruxa então explicou que a porta do forno era grande o suficiente, e demonstrou isso, entrando no forno ela mesma. Neste momento, Maria deu um empurrão na velha bruxa cega e a trancou lá dentro, prendendo a grade com um cinto. A jovem correu na direção dos estábulos e libertou João, mas antes eles acenderam o forno e mataram a bruxa.

Eles ficaram feliz e dançaram de tanta felicidade. Juntos eles entraram na casa da bruxa e acharam baús que estavam cheios de pérolas e jóias. Eles pegaram várias gemas e fugiram da casa de doces.

A história prossegue dizendo que eles tiverama a ajuda de um pato para atravessar um rio de onde, por coincidência, eles puderam avistar a casa dos pais. Chegando lá eles descobriram que a madrasta havia morrido e o pai estava quase morrendo, triste e deprimido, desde o dia em que eles abandonaram as crianças. Quando João e Maria entraram na casa ele ficou feliz, e ainda mais feliz quando as crianças esvaziaram os bolsos e derramaram as jóias no chão da sala.

E eles viveram felizes para sempre.

Algo que podemos comentar, sem esquecermos do contexto social, é o fato de que lições como união, perdão, perseverança e amor ficam óbvias. As crianças tinham todos os motivos para não quererem dividir as jóias com o pai, mas elas perdoam ele no final.

Algumas versões do conto dizem que a madrasta e a bruxa má são a mesma pessoa. Em uma dessas versões a bruxa diz “Eles não vão escapar de mim dessa vez” enquanto prepara os doces para as crianças, reforçando essa idéia. E tem ainda a versão em que é a mãe biológica quem abandona os filhos, uma realidade que acontecia muito naquela época, mas que, aparentemente, era reprovada pela cultura e sociedade.

Este foi mais um Conto. Se você tem alguma sugestão de conto ou história para nós, não deixe de comentar.

Boas leituras!

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