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Conto (não tão) de Fadas 002 - Rapunzel


Realmente um conto não tão de fadas. Ainda bem que existe a versão da Disney!

Hoje voltamos com o segundo capítulo da série sobre a Origem dos Contos de Fadas. Eu sou um grande amante dos contos de fadas, o que não é nenhuma novidade para quem me conhece. Seja pela simplicidade, como pelo alimento à nossa imaginação.


Quando comecei esta série não pensei o quão interessante seria aprender mais sobre a origem dos contos, principalmente os compilados pelos Irmãos Grimm, que vem sendo os contos que eu utilizei até agora. E gostaria de agradecer aos leitores pela boa recepção com o primeiro artigo da série, que você confere aqui, caso não tenha visto ainda.

E hoje um conto divertidíssimo e igualmente antigo: Rapunzel.

É extremamente incrível como a Disney alterou a versão original do conto. E depois de lerem este artigo, acho que vocês concordarão comigo.

Lembrando o artigo 001, é importante ressaltar a época que os contos foram lançados, onde os valores e a cultura eram totalmente diferentes da nossa e os contos, assim como hoje, visavam ensinar certas noções tanto a crianças como a adultos.

Estaremos abordando, como já foi citado, a versão do conto dos Irmãos Grimm. E ela começa assim:

“Era uma vez um homem e uma mulher que sempre desejaram, em vão, ter uma criança. Porém, a mulher esperava que Deus estivesse prestes a conceder seu desejo. Eles tinham uma pequena janela nos fundos da casa da qual eles podiam ver um esplêndido jardim, cheio de belas flores e ervas. Entretanto ele era protegido por um imenso muro e ninguém ousava atravessá-lo porque o jardim pertencia a uma feiticeira poderosa que era temida por todos. Um dia, a mulher estava olhando pela janela para o belo jardim quando ela viu plantada um belo rabanete, que parecia tão fresco e saboroso que deixou a mulher entorpecida de desejo. O marido ficou alarmado e perguntou: ‘O que perturba você, querida esposa?’. ‘Ah, se eu não puder comer alguns daqueles rabanetes, que estão no jardim, eu morrerei!’, disse a mulher. O homem, que amava muito sua mulher, pensou: ‘Antes que minha esposa morra, trarei eu mesmo alguns rabanetes’.”

Só por este primeiro parágrafo podemos perceber as enormes diferenças entre o conto dos Grimm e a versão da Disney que nós conhecemos. O conto recolhido e publicado pelos Grimm é na verdade uma adpatação do conto de fadas Persinette, que é um conto alemão publicado em 1698. Na verdade, mesmo diante desta publicação a determinação da origem é incerta, podendo o conto ser ainda mais antigo do que isto.

O nome Rapunzel vem de rampion, como está na versão que eu li dos Irmãos Grimm. Vi traduções como rabanete e alface de cordeiro, assim como o nome Persinette (ou Petronisella, em outra versão) que significa salsa.

Notamos que o casal se encontra num dilema: O desejo de uma mulher e a prontidão do marido em conceder e suprir este desejo. Vemos mais para frente do conto que a mulher àquela altura já estava grávida, como ela tanto queria. E diferente do conto da Disney, em nenhum momento é dito que eles são da realeza.

O marido, dotado de um senso de cumprir seu dever perante sua esposa, resolve roubar alguns rabanetes (gostei mais dessa tradução), porém no dia seguinte a esposa desejava o rabanete três vezes mais. O marido então sai em nova empreitada para conseguir mais para a mulher, mas no dia seguinte, ao escalar o muro acaba dando de frente com a feiticeira temida.

Ela o indaga sobre o roubo e ameaça a vida do homem que explica que só fez o que fez para suprir o desejo de sua esposa. A feiticeira, provavelmente percebendo que se tratava de uma mulher com desejos de grávida, decide fazer uma negociação com o homem. Ela diz que permitirá que ele leve os rabanetes desde que o primeiro filho do casal fosse entregue a ela quando no nascimento. Confuso e desesperado, o homem concorda com a feiticeira.

Entendendo que o conto era para crianças e adultos, considero esta versão dos Grimm até mais para adultos. Vejam que o pai negocia o futuro de uma criança sem nem saber que sua mulher já estava grávida. Totalmente diferente da Disney, onde a feiticeira sequestra a criança dos reis e aprisiona ela numa torre, para se apoderar dos poderes mágicos dos seus cabelos e conseguir juventude eterna.

A filha do casal, obviamente, nasce e recebe o nome de Rapunzel, fazendo alusão ao rampion, que eu mencionei. Detalhe é que é a feiticeira quem dá o nome a menina.

O conto continua mostrando que a menina cresceu criada pela feiticeira, que tem seu nome revelado como Gothel. Como a menina crescia e ficava cada vez mais bonita, quando a menina completa doze anos, a feiticeira decide prendê-la em uma torre alta sem portas nem escadas, com apenas uma janela no último andar. Inocente, a menina concorda. E quando a feiticeira ia visitá-la durante o dia, acontece a famosa frase tanto nos livros recentes como nos contos antigos:

“Rapunzel, Rapunzel, 
Let down your hair to me.”

Rapunzel é descrita como uma menina de cabelos enormes, como se fossem feitos de espuma da cor do ouro. Quando ela ouvia a voz da feiticeira ela lançava suas longas tranças e a feiticeira escalava até seu quarto.

Dois anos depois, um príncipe que passava pelo local ouve a doce voz de Rapunzel enquanto ela cantava, o que ela fazia constantemente. E se você prestou a atenção até aqui percebeu que ela agora tem 14 anos! Sim, novamente, como no conto da Branca de Neve, temos uma menina extremamente jovem para os padrões do hoje, o que não deveria causar tanto espanto nos dias em que o conto foi escrito. A Disney fez o favor de colocar Rapunzel com 18 anos na sua versão, o que se encaixa mais com a nossa cultura.

Guiado pela voz da menina, o príncipe encontra a torre, mas não vê como subir. Ele então se esconde e observa no dia seguinte como a feiticeira pedia para que Rapunzel jogasse suas tranças. Ele espera a feiticeira ir embora e faz o mesmo pedido. Rapunzel joga suas tranças e se depara com um príncipe escalando e entrando pela sua janela.

No inicio isso causa espanto na menina, mas logo ele a tranquiliza e eles passam a serem amigos. Rapunzel orienta o jovem e belo príncipe a retornar sempre a noite, a fim de evitar a feiticeira. E então temos talvez a parte que mais cause espanto para nós.

Um belo dia, Rapunzel, ao receber a visita da feiticeira, acaba inocentemente entregando o príncipe. Ela pergunta: “Gothel, porque você é mais pesada aos meus cabelos do que o jovem filho do rei”. Esta parte foi alterada drásticamente até mesmo pelos Irmãos Grimm. Na verdade, no original, a feiticeira percebe que a cintura de Rapunzel estava aumentando, revelando a gravidez da menina.

Sim, a menina de 14 anos fez aquilo com o príncipe quando ele a visitava!

Ainda bem que temos a Disney, não?

Irada pela traição, a feiticeira manda Rapunzel para o meio do deserto, corta seus cabelos e espera o príncipe, que retorna. Ele sobe nas tranças, imaginando que seria de Rapunzel, mas encontra a feiticeira no lugar. Com medo, ele se joga da torre (outra versão diz que a feiticeira o empurra) e cai em cima de espinhos que furam seus olhos e o deixam cego. Ele começa a vagar sem rumo pela floresta, desesperado por ter perdido sua amada.

No deserto, algum tempo depois, nascem os gêmeos de Rapunzel, uma menina e um menino (em ambas as versões acontece isso, ou seja ela engravida na torre durante as visitas do príncipe). Ela vive em miséria por anos, mas um dia, enquanto cantava para seus filhos sua voz é ouvida ao longe pelo príncipe que também vagava em miséria e cego. Ele mais uma vez, reconhecendo a voz dela, se deixa guiar e eles se encontram. Rapunzel chora ao ver o estado dele e o coloca deitado em seu colo, não sabendo o que fazer. Então duas lágrimas caem de seu rosto em cima dos olhos do rapaz, que volta a enxergar. Felizes, eles retornam com seus filhos ao reino do príncipe, onde viveram felizes para sempre.

Com as diferenças óbvias das versões fica claro percebermos que o conto tinha a intenção de ensinar e pregar contra a uma prática talvez comum na época, que era a de pais apostando o futuro de seus filhos em jogos ou negociações. Tanto é que o conto simplesmente ignora os pais de Rapunzel no decorrer da fábula. Rapunzel sempre foi tida como uma princesa, mas aqui ela é uma mulher comum e o príncipe é quem resgata e leva sua amada para o palácio. O nome de Flynn Rider, nome dado pela Disney ao ladrão que entra na torre de Rapunzel não é mencionado em nenhuma versão que eu procurei.

Rapunzel é um conto fantástico trazido da cultura alemã para os dias de hoje. Gostei muito da versão original, mas concordo que para os nossos dias a versão da Disney é mais indicada, mesmo sabendo que contos para adultos eram mais comuns antigamente. Hoje existe aquela barreira de contos para crianças, mas devems perceber que estes contos antigos refletiam muito da sociedade e ajudavam as pessoas a entenderem melhor suas próprias convicções.

Espero que tenham gostado. E se quiserem algum conto em especial, deixem nos comentários.

Boas leituras!

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